Eu só
ligava para cavalos.
Eu
sempre amei basquete, mas quando eu era pequeno — até quando eu tinha
13 e 14 anos — eu estava indo pra
corridas de cavalos. Eu nem treinava muito basquete. Eu ia pra está-bulos, só
pra ser o garoto de lá. Essa era minha vida. Eu corria (com cavalos). Não
profissionalmente, mas como amador. Eu até fiquei em quarto lugar uma vez. Era
um bom hobby.
Eu realmente comecei a
jogar e treinar basquete apenas no meu último ano morando na minha cidade
natal, Sombor. Lá é bom. Podem pesquisar no Google. É no norte da Sérvia. Eu
descobri que eu poderia viver de basquete. Podia ser meu trabalho e amor ao
mesmo tempo. Eu sabia que eu poderia ser bom — eu não sabia se iria jogar pra
NBA. Mas talvez na Europa.
Crescendo, eu assistia
as seleções, porque quando você é um garoto na Sérvia, era isso o seu objetivo.
Eu não acompanhava muito a NBA, porque na Sérvia, os jogos passavam as 3 ou 4
da madrugada. Quando o Youtube foi lançado quando eu tinha 15 anos, eu assitia
ao Magic por causa de seus passes, o Hakeem por causa dos seus post moves, e o
Michael Jordan porque ele é o Michael Jordan.
Quando eu era criança,
eu asssistia meus irmãos. Eles também jogam basquete. Nós tinhamos umas quadras
perto da nossa cidade natal. Quando eles iam jogar nessas quadras, eu os
assistia com minha chupeta. Eu sou uma mistura dos dois. Um é talentoso, e o
outro é muito forte. Eu sou um pouco talentoso, e um pouco forte.
Nosso apartamento era
muito pequeno. Tínhamos dois quartos: cozinha e banheiro. Era minha mãe, pai,
meus dois irmãos, minha vó e eu. A casa sempre estava cheia. Meus irmãos — na verdade primos, mas na
Sérvia os chamamos de irmãos — também
vinham de vez ou outra. A casa sempre estava cheia de gente, e nós sempre
fazíamos bagunça. Nós éramos malucos. Nós fazíamos muito barulho.
Quando
eu comecei a jogar, eu estava muito gordo, e ainda não muito alto. Eu era pivô,
mas eu também jogava de armador. Eu driblava por toda quadra. Eu jogava pra me
divertir, sabe? Mas quando eu fiz 16 anos, eu senti que eu realmente poderia jogar.
E esse foi o ano que eu fui da pequena cidade de Sombor para Novi Sad, uma
cidade grande.
Na Sérvia, você jogava para um clube
e ia para o colégio, eles são separados. Não é como nos Estados Unidos, onde
você jogava pelo time do colégio. Mas, todo ano, todas as escolas da Sérvia tem
um grande torneio de basquete. Eu joguei pela minha escola em Novi Sad, e nós
ganhamos o torneio.
Nos meus
dois primeiros jogos na liga maior, a júnior, eu joguei muito bem. O KK Mega
Basket ( clube de basquete da capital da Sérvia, Belgrade) me viu, me ligou e
ficou em contato nessa meia temporada. Depois, na próxima meia temporada, eu
fui para o Mega.
A Europa
e a NBA jogam dois basquetes completamente diferentes. Quando você vê o placar
na Europa, normalmente está tipo 58-50. E foi um bom jogo. Mas aqui nos Estados
Unidos os jogos tem 100 ou 120 pontos. Na Europa, eles se esforçam muito na
defesa. Se um time faz 80 pontos, o problema foi da defesa.
Nós só queremos defender bem. No
ataque você tem a liberdade de atacar se livre. Todos
podem chutar. Se tiver 20 segundos no relógio, você
pode chutar se livre. Nosso técnico queria que nós defendessemos, e depois
correr,correr,corrrer. Mas... nós não defendíamos tão bem. A gente era muito
talentoso, e podia pontuar, mas não defender tão bem.
Ano passado, nós estávamos nas
finais da Copa Nacional contra o Zvezda. Na Europa, especialmente na Sérvia, os
torcedores são malucos, especialmente contra o Zvezda ou o Partizan. Esses são
os maiores times com uma grande história na Sérvia. Os jogos entre si são
considerados dérbis. Eu joguei em Oakland, San Antonio, Oklahoma City, e Utah.
O Utah Jazz tem uma ótima vantagem em casa. Mas na europa, tem mais paixão.
Acho que é a vida dos europes, ser um torcedor daquele time.
Contra o Zvezda, todo o ginásio estava contra a
gente. Você está no túnel, e ouve o “dum, dum, dum” dos tambores e é muito
intenso. O ginásio estava cheio de névoa, torcedores gritando,e apoiando durante todo o jogo.
Era
muito doido, já que éramos o time mais novo. Eles não nos conhecíamos. Todos
estavam vaiando, e eu estava tipo “Vocês nem conhecem a gente! Aposto que
nenhum de vocês conhece todos os 12 jogadores na quadra.”
Eu errei o arremesso da
vitória. Naquele momento eu estava pensando “ Caramba! Eu errei o arremesso
para o troféu! Seria a primeira vez na história do clube!” Eu estava meio
triste, mas eu não pensei mais naquilo depois daquela noite.
Eu acertarei o próximo arremesso.
Todo
jovem jogador Europeu, como uma tradição, tem que jogar primeiro dois anos na Euroleague,
e depois ir pra NBA. Mas eu não ligava para a NBA em princípio. Na segunda
parte da minha última temporada, nós tínhamos alguns contatos com os Nuggets.
Eu pensei que talvez eu conseguisse, já que sou novo. Eu poderia me desenvolver
como um jogador da NBA, não como um jogador Europeu.
Na
verdade, eu estava dormindo quando o Nuggets me draftou.
Meu irmão preparou uma pequena festa
até com champagne, e ele me ligou pra me contar. Eu atendi o telefone, mas eu
não estava realmente ouvindo nada. Eu só falei pra ele, “ Por favor, cara, eu
tô dormindo”. Então desliguei. Por isso só ouvi na manhã seguinte.
Eu não
achava que seria grande coisa. Eu pensava, eles me escolheram, eu fico um ano a
mais na Europa. Eu não achava que ia direto pra NBA.
O
Barcelona, um dos melhores times da Europa, veio me assistir, e eu joguei a
minha pior partida. Eu acho que fiz 4 pontos, e isso talvez tenha sido um sinal
que a Europa não era pra mim. No final da temporada, o Nuggets me ligou, e
falaram que me queria no seu time.
Repentinamente,
tudo ficou diferente. Tudo.
Os vestiários, treinos, academia, as pessoas. Nós
tinhamos uns 10 técnicos. O estilo de jogo envolvia correr muito. Especialmente
para os pivôs, se você conseguir ser rápido, você vai ser bom na NBA.
A melhor parte é viajar. Com o Mega,
nós íamos de ônibus, durava umas 10 horas. O que não é bom pra alguém que é
grande como eu. Agora só viajamos de avião.
Até o jogo é diferente. Na Europa
temos 4 quartos, 10 minutos cada. Aqui, 4 quartos de 12 minutos. Basicamente
tem um quarto a mais aqui.
Uma
coisa que não mudou, pra mim, é a paixão.
Vocês viram algumas vezes que alguns
jogadores me puxam ou seguram minha perna. Eu amo esse tipo de jogada no
basquete. Isso é como jogamos na Sérvia. Ano passado, eu converti uma and-one,
e comecei a gritar, animado. E o cara simplesmente me empurrou, e eu cai e dei
uma cambalhota. Meus companheiros começaram brigar por mim. Isso que eu quero
continuar a fazer. Não brigar, mas sim continuar com a paixão pelo jogo. Eu não
quero que o basquete seja só minha profissão. Eu quero manter essa paixão.
PHOTOGRAPH BY JOE
MURPHY/NBAE VIA GETTY IMAGES
É
melhor que corrida de cavalos.
CONTRIBUTOR
Espero que tenham gostado, quem traduziu foi o @JohnWallBr (Twitter). Link para a carta original aqui.
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