Vocês já viram Casino, certo?
Você sabe, aquele com Robert De Niro e Joe
Pesci em Vegas? Tanto faz — aquele.
Se você
quer saber como é encontrar Pat Riley, você precisa assistir aquele filme.
Quando ouvi
dizer que Miami estava interessado em mim neste verão, eu não estava realmente
vendo isso no início. Nada contra o Heat, mas eu não sabia como eu iria
encaixar lá.
Então eu
encontrei Pat Riley.
Eu entrei
no seu escritório e... caramba. O cabelo estava alisado para trás, ele
estava usando um daqueles ternos dele, você sabe, O.G de verdade., parecia um
milhão de dólares. Atrás dele, ele tem fotos dos times campeões revestindo as
paredes. Ele está usando um de seus 9 anéis.
Ele está
sentado lá olhando como De Niro em Casino. Ele está parecendo o chefe.
Ele está olhando como ele viu tudo, porque ele viu.
Como um
puro fã de basquetebol, eu só quero aprender deste cara.
Então eu
escutei.
Eu sabia
imediatamente que Pat era um cara de verdade, porque ele nem estava me
perguntando sobre basquete. Ele estava me perguntando sobre a vida.
Então Pat
diz: "Vamos colocá-lo em forma de classe mundial. Não boa forma. Não ótima
forma. Forma de classe mundial."
Quero
dizer, estou na NBA. Na minha mente, já estou em boa forma. Mas eu como um
steak de Philly de vez em quando estou em casa? Você sabe que eu como.
Então Pat
está olhando para mim como, "Nos dê uma temporada, e você verá. Classe
mundial."
Até o jeito
que esse homem diz classe mundial é classe mundial, entende o que eu
digo?
Então ele
diz pra mim, "Diga-me algo sobre Dion que eu já não sei. Não sobre
basquetebol. Sobre a vida."
Deixe-me
dizer o que eu disse pro Pat.
As pessoas
acham que me descobriram.
Ilha
Waiters, os GIFs, o Swag Philly Cheese... toda essa merda, certo?
Cara, as
pessoas têm me subestimado minha vida inteira. Eu lembro quando eu estava no
nono grau, eu tinha acabado de ser transferido pra South Philly High, e eu
estava indo para a aula no primeiro dia quando esses dois seguranças vieram até
mim, me medindo como se tivesse um problema.
Um dos
guardas estava, "Hey! Menino novo! Hey!"
Eles
estavam me questionando, tipo, "Hey, o que você está fazendo aqui? Qual
seu nome, filho?"
Então eu tirei
o elenco do time de basquete do meu bolso, e disse "Eu sou Dion Waiters,
acabei de ser transferido."
Os guardas
disseram, "Nunca ouvi falar de você."
Então eu
disse, "Cara, eu estou comprometido pra Syracuse."
Eles me
olharam de cima em baixo, tipo, Nah, você não é merda nenhuma.
Então eu
disse, "É sério! Me procura no google!"
Agora eles
estão rachando o bico, certo?
Então um
dos guardas foi, "Isso não é uma merda? Me procura no google. Eu vou
procurar esse moleque no google."
Então eles
desceram comigo para o escritório, e me pesquisaram no google.
Maxpreps.com.
Dion Waiters. Comprometido com Syracuse.
O guarda
foi, "Cara, você não está mentindo!"
Eu estou
olhando para ele como, uh-huh.
A partir
daquele dia, toda vez que eu vi o guarda no corredor, ele gritava, "Eaí,
me procure no google?"
Esse era o
meu terceiro dos quatro apelidos.
Meu
primeiro apelido foi "Dor-de-cabeça."
Nós vamos
chegar lá, mas não foi essa história que eu contei para o Pat.
Eu contei
ao Pat umas merdas que eu vi, e as pessoas que eu perdi. Com 12 anos de idades,
ambos, minha mãe e meu pai já haviam sido baleados. Eu tive irmãos, primos,
tios e amigos assassinados. Muitos para contar, é sério.
Você sabe
qual é a coisa maluca sobre morte e violência? Você fica anestesiado. Você
realmente fica.
Então por
tudo que eu vi e perdi, eu decidi ainda sim: Sabe o que? Eu só vou jogar pra
c***lho.
Então eu só
comecei a me tornar uma lenda nos playgrounds de Philly. Com 12 anos de
idade... Cara, as ruas sabiam quem era Dion Waiters. Eu aparecia em E.M.
Stanton ou Chew’s Playground e os caras gritavam "Lá vem o
Dor-de-Cabeça."
Esses eram
os dias da "And 1" e todas aquelas mixtapes. Então todos tinham
apelidos. E desde que eu era esse garotinho arrogante que sempre pedia a bola,
sempre driblando, os caras começaram a dizer, "Cara, você está me dando Dor-de-Cabeça."
Então é
isso. Eu era o "Dor-de-Cabeça."
Meu rival
era esse cara chamado Rhamik. Eles chamavam ele de "Pequeno Gigante"
porque ele era pequeno mas jogava como um grande. Um dia, ele apareceu no meu
playground com sua pequena equipe, e desafiou eu e minha pequena equipe. Eles
nos venceram, e eles estavam falando muita besteira depois. Meu Deus.
Eu estava
enjoado. Eu fiquei doente.
Eu não ia
deixar meu nome ficar manchado assim, sabe?
Então nós
andamos até o playground dele e desafiamos ele pra uma revanche já no dia
seguinte. Cara, eu estava numa merda tipo Jogo 7 das Finais, é sério. Eu não ia
perder.
Nós matamos
eles.
No dia seguinte
Rhamik e os garotos dele apareceram de novo no nosso playground.
E eu estava
tipo, droga, está prestes a haver um problema? No sul de Philly, você nunca
sabe. Então eu andei até Rhamik, e ele estava tipo, "Bom jogo, bro."
Depois
disso, nós saímos todo dia. Nós fazíamos tudo junto. Tudo. Eu dormia na
casa dele, ou ele dormia na minha casa. Todo mundo no nosso bairro amava
Rhamik. Ele era um garoto lendário. As pessoas conheciam ele, além de jogar,
era patinar.
Olha, em
Philly patinar era uma grande coisa. Ainda é. Eu não tô falando de, você sabe,
Tony Hawk. Eu estou falando sobre andar de patins — os skates marrons com
quatro rodas. Todo domingo, nós tinhamos essas festas de patinação feita pela
Sra Doris. Se você não estava indo bem na escola (o que eu sempre estava), a
Sra Doris ia até sua porta e dizia, "Dion! Você está banido da festa dos
patins até você começar a andar na linha."
Isso era um
punhal. Você não queria estar banido da festa dos patins. Esse
era o lugar para você encontrar as garotas. Se você está imaginando uma coisa
meio disco, não era assim que funcionava. Tinha tipo, 100 crianças de Philly
andando de patins ao som de Rick Ross, fazendo o Philly Bop.
E Rhamik
era o melhor patinador e ponto. Ele podia patinar seu traseiro. Antes de eu
aprendar a patinar, eu só ia assistir ele e ficar tipo, Droga. Eu tenho que
aprender. Esse cara tá matando.
Então por
tipo, quatro anos, era bola e patins, bola e patins, todo dia. Quando estavam
me procurando, não era, "Cadê o Dion?" Era sempre, "Yo, onde
estão Dion e Rhamik?"
Quando
chegamos no colegial, você sabe como funciona. As coisas mudam. Você começa a
enfrentar certas realidades. Rhamik era um garoto pequeno. Ele ainda jogava
bola, é claro, mas ele estava tomando um caminho um pouco diferente. Quando eu
tinha 15, nós fomos separados, porque eu tive uma oportunidade para ir jogar
nessa escola interna em Connecticut chamada South Kent.
Ainda,
nesse ponto, Syracuse parecia muito, muito distante. Quando você cresce na
minha vizinhança, você vive dia a dia. É assim que você passa. Se você pensa
muito sobre o futuro, você pode ter seu coração partido, você me entende?
Mas eu me
lembro da minha mãe me dizer, "Dion, você precisa sair de Philly por um
tempo. Vai ser bom pra você."
Então eu
fiz minhas malas. Foi a primeira vez que eu experenciei qualquer coisa fora da
minha vizinhança, e cara... A saudade de casa era louca. South Kent fica no
meio do nada. Eles fazem isso de propósito, para você não entrar em
nenhum problema. Isaiah Thomas estava lá comigo. Ele era um senior de quinto
ano, e ele tem o mesmo tamanho que tem agora, é sério.
Olha, eu
sou um cara confiante. Mas mesmo naquele tempo, eu assistia o Isaiah tipo, Yo,
esse cara é um matador.
Ele liderou a escola em pontuação e eu era o
número 2. Isso não é louco?
Mas eu estava muito entediado lá. Quer
dizer, eu vou de rasgar e correr nas ruas de Philly pra... Bom, deixa eu
colocar desse jeito: o Wal-Mart mais próximo ficava há 45 minutos de distância.
Nos sábados, nós pegávamos um ônibus para o Wal-Mart. Essa era nossa grande
coisa da semana. Philly está no meu sangue, sabe? Eu ia pra lá pra escapar por
um tempo, mas eventualmente... Bom, você não consegue escapar da vida,
consegue?
Eu recebi uma ligação. Eu nunca vou esquecer.
Eu estava indo para um campeonato, e meu garoto de Philly me ligou e disse,
"uh... cara..."
Eu tô tipo, "O que tá acontecendo? Diz
aí."
"... Rhamik foi baleado."
Depois de um tempo, você escuta tantas vezes,
você nem precisa perguntar, "Ele morreu?" Você consegue dizer pelo
tom no telefone.
Eu estava atordoado. Paralisado nem
chega a descrever.... Eu entrei no MySpace naquela noite, todo mundo tinha
fotos com Rhamik na foto do perfil, e me bateu de um jeito muito forte. Eu só
quebrei. Eu perdi.
Aquele era meu garoto. Nós éramos o mesmo. De
todas as pessoas que eu perdi... Rhamik? Eles tinham que matar o Rhamik?
Essa provavelmente foi a última vez que eu me
perguntei Por que?
Todo mundo amava esse garoto. Eu e Rhamik
iamos para o parque com 12, 13 anos pra jogar com os caras mais velhos, e nós
lotávamos aquela coisa como um Baby Rucker. As pessoas apareciam só pra ver a
gente jogar bola. Eu falo lotado, portão a portão, pra ver uns moleques
da metade da escola jogar.
Eu penso sobre isso algumas vezes e eu quase
choro. Não tinha diferença nenhuma entre eu e ele. Nós éramos exatamente o
mesmo. A única diferença era, eu fui pra Connecticut com 15, e eu fui colocado
em um caminho diferente...
E sim, eu estraguei muitas vezes, e quase
desisti, e toda essa coisa, mas não importa.
Eu estava em um caminho... E eu cheguei, de
algum jeito.
É daí que eu venho. Isso é apenas uma fatia da
vida que eu vivi.
Normalmente, eu não gosto de falar sobre essas
coisas. Mas quando alguém real pergunta sobre minha vida, eu conto. Então quando
eu entrei no escritório do Pat Riley no último verão, e ele me perguntou, eu
contei. Agora eu estou contando pra você.
Você sabe, é hilário pra mim. Eu não sou um
cara da internet, mas eu vejo as coisas. Eu vejo o que as pessoas dizem sobre
mim. Eu vejo os GIFs e essa coisa toda.
Eles dizem: "Ele nunca viu um arremesso
que ele não gosta."
"Ele tem confiança irracional."
"Ele acha que é o melhor jogador da
NBA."
Claro que eu penso.
Eu tenho
que pensar desse jeito.
Escute, agora você sabe de onde eu venho.
Imagine você andando em um playground de South Philly com 12 anos, com caras
crescidos, arquibancadas cheias de gente querendo uma oportunidade.
Você acha que conseguiria sobreviver em Philly
sem confiança irracional?
Você nunca vai ouvir as palavras, "Eu não
consigo" saindo da boca de Dion Waiters.
Eu posso. Eu vou. Eu já fiz.
E lembre-se, meus primeiros 5 anos na NBA, eu
joguei com os melhores do jogo. LeBron, KD, Russ. Eu via esses caras todo dia.
E você sabe eu não estava apenas jogando... Eu estava competindo.
Quando eu cheguei em OKC, eu e KD estávamos
juntos todo dia. Kev pensava que era engraçado, porque quando chegávamos no
ginásio e jogávamos 1v1, eu estava tentando matar ele. Desse jeito.
Vá em frente e pergunte para ele quem venceu
nosso último jogo.
Pergunte para ele. Ele vai te dizer.
Ele venceu muito. Mas eu ganhei bastante.
Kev costumava a falar muita besteira pra mim.
As pessoas não sabem isso sobre ele. É claro, se você me conhece, você sabe que
eu ia completamente armado pra cima dele. Mas ele voltava até mim. Ele tentava
me colocar no post, e eu entrava em uma merda meio Phily Baby Bucker. Eu
tirava todos os truques. Eu espremia os quadris dele, diretamente no ponto
fraco.
Eu amava. Eu amava aquele time.
Eu realmente achava que eu iria voltar pra OKC
nessa temporada, e achei que iríamos em mais uma corrida. Mas as coisas não
aconteceram desse jeito, porque basquetebol é um negócio. Quando eu recebi a
ligação de Miami, eu fui lá e entrei no escritório do O.G. Pat Riley. É quase a
melhor coisa que aconteceu na minha carreira na NBA.
Eu lembro quando eu tomei minha decisão de
assinar com o Heat, eu tive que contar a notícia pro meu filho. Ele tem 3 anos.
Ele disse: "Nós temos que deixar Oklahoma?
Não!"
(Ele ama OKC.)
Eu disse: "Sim, nós não temos uma
escolha."
"E nós temos que mudar pra Miami?"
"Yup."
(Grande suspiro.)
"... O.K."
Eu estou te falando, eu tive que vender pra
esse garoto. Eu mostrei fotos de piscinas e tudo mais.
Mas eu posso ser honesto com você?
Quando Pat disse "Forma de classe
mundial," eu pensei que soasse legal, mas na minha cabeça, eu estava tipo,
Yeah, eu tenho isso. Eu estou em uma forma classe mundial. Você já sabe.
Então eu apareci para o camp, e depois de uma
semana, meu corpo estava baleado. Eu estava quase sendo jogado nas latas de
lixo como nos filmes.
E eu percebi, Quer saber o quê? Pat não
estava apenas tendo uma conversa suave. Essa coisa do Heat é real.
Quando eu fiquei afastado com uma lesão na
virilha em novembro e perdi 20 jogos, eu estava fervendo. Nós caímos pra 11-30,
e todo mundo tinha desistido de nós. As pessoas estavam dizendo que deveríamos
tankar pra uma pick.
Haaaaa.
Vamos lá, cara.
Enquanto eu estiver na quadra, você sabe o que
nós não vamos fazer.
Quando eu voltei em janeiro, eu estava tão
focado que era coisa de maluco. Eu ficava dizendo pra todo mundo, "Tudo o
que vamos fazer é ganhar 7, 8 seguidas e estaremos de volta."
Diabo, eu me lembro que jogamos contra o Kev e
aqueles meninos em Golden State, e eu tinha acabado de voltar. Eu estava indo pra
cima do Kev naquela noite, mas eles nos venceram. Nós fomos jantar depois
daquele jogo, e eu disse pra ele, "Bro, nós vamos entrar em uma
sequência."
Ele ficou me olhando tipo, "Tá, certo."
Eu disse: "Naw, eu tô falando sério. Nós
vamos puxar sete seguidas."
Ele disse: "Yeah, mas nós vamos pra Miami
em duas semanas."
Eu disse: "Yeah, isso é uma vitória.
Aposto."
Ele rachou o bico.
Nós voltamos pra casa e vencemos 3 seguidas, e
Kev e aqueles meninos vieram pro nosso lugar.
Nós demos a eles tudo o que eles podiam
aguentar. Nós não estávamos com medo. Eu logo vi o jeito que o Kev estava me
marcando, tipo, ele estava me fazendo arremessar a bola. Eu disse à ele:
"Bro, eu tô me sentindo bem. Você viu nossos últimos 4 jogos? Vocês
estão aqui pra uma noite longa.
Nós estávamos falando besteira como se
estivessimos jogando 1v1 em OKC.
Quarto período, 10 segundos sobrando. Jogo
empatado. Eu tenho a bola nas minhas mãos com o jogo na linha, e eu já sabia o
que ia acontecer. P***a da prorrogação, vamos sair daqui.
Quais as análises disso?
Isso é uma vitória.
Então eu fiz a pose.
As pessoas me perguntam o tempo todo, "O
que significa?"
Não significa nada.
É só Philly dentro de mim.
Depois disso, puxamos 13 seguidas. Ninguém
queria nos ver na primeira rodada. Ninguém.
Olha, eu sei que nós ficamos um jogo fora dos
playoffs e isso me mata. Se eu não tivesse caído com uma lesão, acho que todos
nós sabemos onde estaríamos agora. Mas você quer saber? A corrida nessa
temporada foi mágica. Nossos fãs esgotaram a arena toda noite, até quando nós
estávamos à beira da morte.
Eu amo Miami. Eu tive o inferno de uma
temporada aqui.
Meu filho até tem uma namorada aqui. ELE TEM 3
ANOS. Você consegue acreditar nisso? Miami é desse jeito. Ela corre na direção
dele pra dar um abraço nele e diz: "Oi namorado." Aí ela vai embora.
É de explodir a cabeça.
Eu
tento dizer a ele: "Tome cuidado lá, filho."
Ele não está ouvindo.
Tomara, que tenhamos encontrado uma casa aqui.
Independente do jeito que acontecer, foi o inferno de uma caminhada aqui nessa
temporada, e agora você conhece um pouco de onde eu vim, e o que você viu, você
sabe que eu estou sendo real quando eu digo que eu sou grato.
(Eu sei que Kev está lendo isso agora,
pensando, "Obrigado Deus por esse cara estar em casa fazendo
artigos ao invés de estar matando nos playoffs.")
Você não quer nos ver, Kev!
Espero que tenham gostado de mais uma carta traduzida... Foi o @HeatMilGrau que traduziu. Link
para a carta original no Players Tribune aqui