![Leandro Barbosa, Guard / Phoenix Suns - The Players' Tribune](https://media.theplayerstribune.com/uploads/barbosa-avatar.png)
Eu
queria falar com você sobre os amigos que eu fiz na minha jornada na NBA.
E
eu prometo, que até o final deste artigo, Shaq vai passar correndo pelo U.S.
Airways Center – pelado.
Ainda
não. Agora precisamos falar sobre o Golden State.
Você
esta assistindo aos playoffs certo? Os Warriors, cara... eles são
inacreditáveis. Todo mundo sabe disso. Mas o que as pessoas talvez não saibam é
sobre o trabalho que levou para chegar nesse nível.
Eu lembro. Eu Estava Lá.
Depois que nós ganhamos o título de 2015, ficamos ainda melhores na temporada
seguinte, o que é estranho.
Meu amigo Steve Nash entrou como assistente em
2016 e nos ajudou muito. Mas era estranho no começo. Eu conhecia Steve como um
colega de time da minha primeira passagem no Suns. Nós estávamos sempre rindo e
tendo bons tempos antigamente. Mas como um técnico ele era sério. Ele era
totalmente focado. Ele nem se quer trocou seu corte de cabelo como ele fazia
antes.
E
ele queria que nós melhorássemos – especialmente Klay e Steph.
Klay
já era um bom jogador, mas Steve viu algo a mais nele. Klay ficava quase todos
os dias depois do treino arremessando bolas de três, parado, por horas. Steve
não gostava disso. Falou pra ele que em jogos reais você quase nunca vai
arremessar parado. E Klay estava acertando todas, então ele ficou tipo, Porque eu mudaria alguma coisa? Então
demorou um tempo para que Klay entendesse o que Nash estava falando. Mas Steve
tinha um objetivo, e Klay se esforçou muito. Eventualmente, Klay incorporou
dribles a sua rotina e você pode ver os resultados agora.
Com
Steph, eu me surpreendi muito com o tanto que ele sabia sobre os nossos grandes
times em Phoenix. Steve e eu ficávamos
arremessando depois do treino e Steph vinha perguntar sobre aquele time do Suns
para o Steve. Ele amava nosso ataque e queria saber como o Warriors poderia
virar algo como aquele time.
Isso
me encheu de orgulho. Um dos melhores jogadores do planeta, em uma das melhores
equipes do planeta, perguntando como eles poderiam ser mais como aquele time em
Phoenix. Nosso estilo de jogo com caras pequenos parecia estranho naquela época
– ninguém nem chamava isso assim – mas agora é moda... E está funcionando
melhor do que eu e Steve imaginávamos.
Se
você me dissesse 12 anos atrás que nosso time iria inspirar o Warriors a fazer
o que eles estão fazendo nos últimos anos – Eu te chamaria de maluco. Mas minha
carreira inteira foi maluca.
Eu
cresci numa favela em São Paulo, Brasil. Era um lugar difícil. Se você viesse
no meu bairro sem conhecer ninguém, você não sairia de lá.
Eu
vendia frutas com minha mãe durante o dia e jogava basquete a noite. Eu dormia
no chão da nossa casa. Quando eu tinha 8 anos, eu lembro de ver Michael Jordan
na TV de um amigo meu. Depois disso, eu estava pensando, eu tenho que ir para a NBA de qualquer maneira. Eu queria jogar na
liga do Jordan. Mais importante, eu estava tirando minha família daquela casa.
E
se eu não tirasse, alguém eventualmente iria morrer lá.
Basquete
era um jogo para mim. Mas era minha saída daquele bairro. Era a nossa saída. E em 2003 eu tive minha
chance de sair.
“Mais
importante, eu estava tirando minha família daquela casa. E se eu não tirasse,
alguém eventualmente iria morrer lá” – Leandro Barbosa
Eu
me lembro de dirigir por Manhattan a caminho da Madison Square Garden para o
Draft da NBA. No Brasil, todo mundo falava bem da America. Era meio que um
mundo dos sonhos. Até estando lá, não parecia real. E Nova York... Eu não
conseguia acreditar no que estava vendo. Eu estava em choque. Tudo era tão
diferente. Os prédios, as pessoas... Todas as pessoas – tinham muitas. Eu acho
que não falei mais do que 10 palavras para ninguém naquela noite. Eu só estava
olhando tudo. Era surreal. Até quando falaram meu nome no The Garden, eu ainda
me sentia em choque. Todo mundo levantou e me aplaudiu. Eu só fiquei sentado.
Eu
fui escolhido pelo Spurs inicialmente. Alguns minutos depois, algumas pessoas
do Suns me disseram que eu iria para Phoenix. Eu não conseguia entender o que estava
acontecendo. Eu nunca tinha ouvido falar das duas cidades. Eu só balancei minha
cabeça e fui com eles.
No
outro dia, eu estava em Arizona. Eu fui do aeroporto direto para a arena.
Alguns membros técnicos do Suns me levaram ao vestiário e me mostraram a minha
prateleira com o meu nome, minha camisa e meus tênis.
Quando
eu vi meu armário... Com o meu nome... Cara, era outra coisa.
Eu
falei para eles, através do meu tradutor, que eu não iria de volta ao hotel
naquela noite. Eu queria dormir ali.
“Mas
você não pode dormir aqui. Não tem cama. Isto é só... O chão” eles falaram.
Eu
falei para eles que isto era muito melhor do que qualquer coisa que eu tinha no
Brasil. E falei que se eles pudessem ver onde eu morava em São Paulo,
entenderiam. Não acho que eles acreditaram. Mas não liguei. Eu queria estar ali
naquela noite.
Tinha
uma grande TV, uma geladeira, e o meu nome
estava em um armário da NBA atrás de mim. O que mais eu precisava?
Shawn
entrou no vestiário e não sabia que eu estava ali.
“Cara,
o que você esta fazendo? Voce é maluco, cara. Voce é maluco!” ele falou
Ele
continuou falando que eu era “maluco” e continuou sorrindo. Eu já percebi que
ele era um cara legal. Nos rimos muito naquele dia – e para o resto de nossas
carreiras juntos.
Shawn
me mostrou o resto do lugar e me introduziu para os colegas de time. Eu conheci
Stephon naquela tarde. Ele me perguntou da minha mãe, meu irmão e como nos
estávamos nós estávamos nos ajustando para a vida na America. Durante meus
primeiros meses em Phoenix ele me colocou debaixo do braço. Nós passávamos varias
horas jogando vídeo-game na casa dele e descansando. Onde quer que fossemos,
ele nos levaria num dos carros chiques dele. Eu ainda não sabia falar inglês
muito bem, o que eu acho que ele gostou por que podia falar qualquer coisa para
mim. Mas quando ele colocava rap no carro... nós falávamos a mesma língua.
Eu
conhecia as mesmas musicas que ele. Jay-Z, Snoop Dogg, Dr. Dre, todos esses
caras. Eu cantava rap bem mal, mas Stephon amava isso. Ele colocava o som no
máximo na sua Range Rover. Steph tinha muitos carros. Eles eram todos muito
bonitos.
Um
dia, no começo do nosso treinamento de verão, ele me chamou pro canto depois do
treino.
“Ei,
cara, tenho um presente pra você”
Ele
me levou pra fora e apontou para uma Escalade. Novinha.
“Não...
não. Eu não vou aceitar” Eu falei.
“Eu
quero que você tenha isso. É um presente meu para você. Eu te amo, cara. Isso é
pra você”
Eu
comecei a chorar na hora. Eu realmente chorei. Era meio difícil acreditar que
ele estava me dando um carro, sabe? Minha vida tinha sido dura. Eu já cheguei a
passar fome. Mas agora, alguém estava me dando um carro?
Eu
nunca vou esquecer aquele sentimento. Steph, cara, ele é família para sempre.
E
também me ensinou inglês! Bem... Somente os palavrões. Mas ele me ensinou a
como usá-los, de um jeito bom – o jeito “Trash-Talk”.
Ele
falava: “Olha, Leandro, é assim que você vai usar estas palavras. Então, quando
o jogo começar, olhe para quem você esta marcando. Olhe direto nos olhos dele.
Se ele abaixar a cabeça, então você já ganhou. Você esta em cima dele. Vai lá e
chuta a bunda dele. Então você começa a falar merda. Fala o que você quiser.
Entre na mente dele.”
Steph
fazia isso muito bem. Ele ia lá, falava merda e conseguia confirmar o que
falava. Ele era uma estrela.
Mas
você sabe quem era o melhor nisso? Meu amigo Shaq.
Em
2008, você não conseguia entra no garrafão contra o nosso time do Suns. Bem,
talvez você conseguia, mas não iria sair. Eu ficava ao redor da cesta quando os
armadores adversários irião em direção do Shaq. Ele batia a bola para fora da mão
deles e do outro lado da quadra, começava a gritar para os caras. Shaq era um
gigante amigável num momento e o pivô mais dominante da historia no outro. E
seus oponentes nunca sabiam qual dos dois enfrentariam. Era muito divertido de
assistir. Shaq gritava:
“Se
você vier aqui de novo... Cara. Eu juro por Deus, eu vou te f**er. Eu vou. Eu
vou mesmo p**ra.”
Na
próxima posse, o armador cortava para o garrafão, olhava para o Shaq, e passava a
bola na hora.
Shaq
era um cara muito assustador, com certeza. Mas depois que você alguém nu, você
vê um lado diferente dele. Esta pronto para essa história? Você não esta
pronto.
Era
dia de jogo, no começo da tarde. Shaq veio me buscar porque iríamos ate o
quarto do treinador para aquecer antes da bola subir. Nos estávamos no
vestiário, tiramos nossa roupas e fomos para o centro de reabilitação. Mas o
treinador não estava lá. Esperamos 15 minutos. Todos nós estávamos de toalha,
sentados esperando. Shaq estava meio bravo até esse ponto. Ele abriu a porta e
falou, “Você vai vir? Ou eu vou ter que ir ai e te buscar?”
No
inicio, o treinador não sabia se ele estava brincando ou não. Shaq deu alguns
passos para frente e nosso treinador teve certeza que ele não estava. Então o
treinador saiu correndo através do hall.
Shaq
foi atrás dele, lógico. Ainda pelado. Agora Shaq estava a toda velocidade
correndo pelo hall, passando pelos trabalhadores da arena e outros membros,
gritando muito alto. Isso era um dia normal. Era um dia de semana.
Todo
mundo estava em seus uniformes oficiais do Suns ou em ternos. Shaq estava com
sua roupa de aniversario.
Apenas
imagine isso, se você se atreve.
Futuro
Hall da Fama, um dos maiores pivôs que já jogou o jogo de basquete. E ali
estava ele, pelado, correndo atrás do nosso pequeno treinador através dos
corredores da arena. Eu acho que a caçada durou 15 minutos. O que era tempo
suficiente para que o Grande Cacto Nu se aquecesse na arena.
Esse
é meu amigo, esse é Shaq.
Aqui
dentro, eu ainda me sinto como um garoto do Brasil. A NBA, e os amigos que eu
fiz durante essa jornada me ajudaram a crescer no homem que eu me tornei.
Minha
jornada não acabou ainda. Eu ainda tenho mais tempo a frente, ainda bem. Minhas
pernas ainda se sentem jovens. Eu ainda tenho o aquele fogo competitivo em mim.
Mas no geral, me sinto grato. Mais um temporada termina, e meus amigos
continuam a ter sucesso de todos os modos, me sinto bem por compartilhar estas
historias. E por dizer obrigado.
Obrigado a
todos.
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