sábado, 3 de junho de 2017

Crescendo na NBA (Algo do tipo)


DeAndre Jordan, Center / Los Angeles Clippers - The Players' Tribune




Em algum momento durante o All-Star Weekend, eu me toquei.


Eu estava indo de um evento em evento, como você faz no All-Star, e colocando o papo em dia com todos os outros jogadores - alguns caras eu conheço como amigos, mas a maioria eu só conheço de jogar contra. E em algum momento, eu me toquei: "Caramba. Olha essa molecada!".


Não era como se eu estivesse me sentindo velho e tal, mas eu me peguei pensando algumas vezes naquele fim de semana que eu não era mais um dos jovens da liga.


E eu também me peguei pensando em quando eu era um novato. Isso foi há nove anos.


Nove anos. Isso é louco pra mim. É o tempo que eu estou na NBA - e foi o tempo que demorou pra eu conseguir ser selecionado pro All-Star Game. Provavelmente eu deveria dizer que eu merecia ter sido um All-Star mais cedo - que eu tinha sido esnobado nos anos anteriores, ou algo assim. Mas naquele fim de semana em Nova Orleans tudo parecia... certo. O tempo pareceu bom. Ser votado neste ano, depois de nove anos na NBA... caramba, isso realmente significou alguma coisa. Porque levou tempo.


Sabe o que é louco? Eu sou o mais velho no elenco do Clippers. Alguém me lembrou disso recentemente e meio que me surpreendeu. Não o mais velho em idade, mas eu sou o que está há mais tempo no time. Estou em L.A. desde o início da minha carreira na NBA.


Dois verões atrás, quando passei por todo aquela loucura na Free Agency entre Dallas e Los Angeles, uma das coisas que realmente me ajudaram na decisão foi minha conexão com meus colegas de time no Clippers. Talvez seja o esperado a se dizer, mas isso é realmente o que eu sinto sobre isso. Há uma razão pela qual esses caras voaram para me recuperar. Construímos algo juntos, e ainda não terminamos o que começamos.


Em cada um dos meus nove anos como Clipper, adicionamos algo à nossa franquia. Todos os anos assinamos um ou dois novos jogadores. Todos os anos, adicionamos uma personalidade e adicionamos um valor. Obtivemos Blake Griffin, Chris Paul e J.J. Redick e o nosso treinador Doc Rivers, e com o tempo esses caras se tornaram o coração da equipe. Sem sequer ter percebido totalmente, eu tive parte especial na reconstrução de um time... a reconstrução de uma franquia, de verdade. Eu tive a chance de nos ver todos juntos. Depois de nove anos - e acho que realmente levou quase todos esses nove anos - percebi o quão raro é, o quanto é especial, estar com uma única equipe em toda a sua carreira.


Este ano, tenho passado muito tempo trabalhando com o nosso Pivô novato, Diamond Stone.

Diamond é talentoso e cru - um garoto que, assim como eu, jogou apenas um ano no basquete universitário e entrou na liga aos 19 anos. E o Diamond é um bobão fora da quadra. Vejo muitas semelhanças entre nós dois. No início da temporada, comecei a ligar pra ele em momentos aleatórios para fazer com que ele fizesse tarefas. Você sabe, coisas típicas de novato. Eu normalmente pedia pra ele ir buscar lanches na CVS 24 horas.


E isso me deu outra lembrança do meu ano de novato.


Uma lembrança de Lattes... especificamente, Chai Lattes de baunilha com leite de soja. Eu provavelmente pedi 150 desses no meu ano de novato. Depois disso nunca mais pedi nenhum.


Isso porque era o café do Baron Davis: Vanilla soy chai latte. Eu lembro da primeira vez que ele me enviou para a Starbucks pra pegar um - foi no início da pré temporada. Baron é uma lenda e eu realmente o seguia, então eu queria impressioná-lo. Eu me sentia bem invisível como o cara novo. Eu sabia que meu trabalho era fazer o que ele dissesse.


Na época, eu não sabia que Baron também era... um cara muito estranho. De um jeito bom, é claro, mas... um cara único.


Ele me ligaria - poderia ser qualquer hora do dia - e as chamadas sempre seriam super curtas.


"Ei 'rook'.. vá me trazer um chai latte de baunilha".


Nenhuma conversa ou qualquer coisa.


"Com a soja. Não se esqueça da soja".


Então "click". Era isso.


Na primeira vez, na verdade, eu me mandei uma mensagem "chai latte de baunilha, não esqueça a soja", então eu não traria o café errado. Voltei, me sentindo meio orgulhoso, como um estagiário no meu primeiro dia ou algo assim. Mas quando entreguei a bebida pra ele, Baron tomou um gole, me olhou e jogou o café fora. E ele simplesmente se afastou. Eu sempre me perguntei o que teria acontecido se eu tivesse levado o pedido errado.


Baron me ligaria todos os dias. A mesma conversa. Mesmo pedido. Alguns dias, ele tomava o café todo, mas outros dias, eu passava pelo armário dele e o copo estava apenas largado na prateleira, completamente cheio. Eu podia dizer que Baron nem tinha tocado nele porque ainda estava com o lacre.


A verdade é que Baron gostava de brincar comigo e os outros novatos, mas ele fez isso porque ele se importava. Nos treinos e nos jogos, ele sempre era o veterano que dizia "Bom trabalho na defesa", ou "Bom jogo, garoto". Isso realmente significava muito pra mim.


Nove anos depois de todos aqueles cafés, eu estou pensando se eu poderia fazer o trote do Starbucks com Diamond, como o Baron fez comigo, quando o Diamond me traz os lanches da CVS.


Mas eu acho que sou muito bonzinho.


"

Marcus Camby era outro veterano que gostava de brincar comigo. Primeiro, eu conheci Marcus porque ele me fazia buscar rosquinhas de framboesa.


Marcus amava aquelas rosquinhas. Ele me ligaria a qualquer hora. Ele me entregava uma nota de cem dólares, e quando eu voltava com três rosquinhas - sempre três, sempre framboesa - ele me deixava ficar com o troco. Era muito melhor do que a coisa do latte.


Mas Marcus realmente me ajudou de mais maneiras do que essa. Quando eu era um novato, eu era uma criança. Uma criança grande, mas definitivamente apenas uma criança. Eu levava jogos e treinos a sério, mas fora da quadra eu ainda era um palhaço. Marcus viu isso a uma milha de distância.





Em um jogo em San Antonio, entrei no lugar do Marcus no segundo quarto. Eu sendo do Texas, sempre achei o Tim Duncan "o cara" durante toda a minha vida.


Agora, eu tinha que marcá-lo. Eu estava olhando para um dos meus ídolos de basquete.


Eu estava muito ansioso. Eu estava tipo: "Cara, eu estou jogando contra Tim Duncan. Tenho que tentar dar um toco nele, tenho que tentar fazer uma grande jogada e tudo o mais". Mas Tim era paciente demais no garrafão. Isso é algo que eu nunca vou esquecer sobre marcá-lo. Eles limpavam o garrafão, e então Tony Parker tocava pra ele e era tipo: "Ok, garotão, como você quer isso?". Uma vez ele nem chegou a fingir o arremesso e eu já tinha pulado - eu juro, tudo o que ele fez foi olhar para a esquerda... e eu já estava no ar.


Eu fui substituído e o treinador não me colocou de novo até o último quarto. Após o jogo, Marcus veio até mim, balançando a cabeça. Ele estava prestes a dizer alguma coisa.


Antes que ele pudesse falar, eu falei: "Eu sei, eu sei, eu não deveria estar pulando tanto".


Marcus fez uma expressão do tipo "Do que você está falando?", ele nem respondeu ao meu comentário.


Marcus tinha sua própria pergunta pra mim.


"Qual é a jogada favorita de Tim?"


"Eu não sei", eu disse a ele.


Marcus ficou decepcionado com a minha resposta.


"Você quer dizer que você simplesmente foi lá e quis adivinhar?", Ele disse, olhando para mim como se eu fosse um alienígena ou algo assim.


Esse foi um momento que realmente abriu os meus olhos. Como novato, nunca pensava muito sobre quem iríamos jogar na noite seguinte. Eu sabia quem eu tinha que marcar, mas Marcus me encorajou - de uma forma intimidante - a ir mais fundo. Ele fez disso um jogo entre nós. Ele me pediu para estudar as preferências dos jogadores e depois me salpicava com as seguintes perguntas: "Com qual mão ele arremessa quando ele está no lado esquerdo? No lado direito? De que jeito ele gosta de girar? Ele faz o pump-fake? Ele faz o up-and-under? Em quais circunstâncias? Como você pode prever que ele vai fazer isso?". Era tudo realmente muito específico.




Durante a minha primeira temporada, acho que desvendei um mito que eu tinha sobre a NBA. Quando você é um novato, você acha que, uma vez que você está na liga, é apenas basquete... mas em um nível mais alto.


Você sabe, talvez seja um pouco mais rápido e mais difícil, mas basicamente o mesmo. Você acha que quando a bola sobe, você apenas faz o que sempre fez. Sabe? E você acredita, ou pelo menos eu acreditei por um tempo, que jogadores grandes e talentosos irão ganhar jogos com tamanho e habilidade. Mas agora eu sei... essa não é toda a história.


Fui humilde no meu primeiro ano. Eu me sentei muito no banco, então eu estava assistindo mais do que estava jogando. Eu tive que enfrentar o fato de que eu realmente não estava trabalhando tanto no meu QI de basquete quanto eu estava colocando na parte física. A lição de casa que Marcus estava me dando me consumia bastante tempo, o que era irritante no início. Alguns jogos eu só jogaria 10 minutos, mas eu tinha feito uma hora ou duas de pesquisa antes do jogo.


Nunca esquecerei de um jogo daquele ano, quando Marcus quase explodiu minha mente. Eu estava no banco e ele estava jogando, correndo pela quadra de defesa. Ele passou na frente nosso banco e ele gritou, alto o suficiente para eu ouvir, "Eles vão fazer tal jogada, mas antes vão fazer um bloqueio."


Alguns segundos depois, essa foi a jogada que eles fizeram.


E eu fiquei tipo "Como diabos ele sabia o que ia acontecer?".


Após o jogo, Marcus estava totalmente normal. "Eu estudei todas as jogadas deles".


Me assustou um pouco perceber que estava acontecendo tanta coisa no jogo da NBA que não estava vendo. É como quando todos sabem de um segredo e você percebe que você é o único ainda no escuro.


Naquele dia, eu me senti com certeza um novato. No resto da temporada, Marcus e eu conseguimos uma rotina realmente boa. Queria mostrar pra ele que eu poderia aprender e evoluir. No fundo, pensei que era legal ter a preparação para prever o que uma equipe iria fazer. Então, nas sessões de arremesso, Marcus me questionaria.


"Então, nós temos Portland em dois dias, o que é 'Floppy Out'?"


E eu dizia a ele que era um pick-and-roll para Brandon Roy e LaMarcus Aldridge, ou quem quer que fosse, e que Aldridge gostava de correr direto para a ponte aérea.


Essa temporada inteira pareceu um grande questionário.





Sempre surpreende as pessoas quando digo isso, mas um dos jogadores mais duros que eu já enfrentei é Nick Collison.


Eu ouço muitos pivôs dizerem que Shaq era o cara mais difícil de marcar e acredite em mim... isso é muito verdade. (Uma vez, Shaq quase me nocauteou com uma cotovelada no peito). Mas eu aprendi mais sobre o jogo jogando contra o Nick.


Eu lembro de uma vez que estávamos jogando em Oklahoma City e Nick entrou no jogo. Ele veio até mim e - super educadamente - disse: "Ei, cara, eu só estou te informando que meu treinador me disse para não deixar você pegar nenhum rebote." Então ele sorriu. Ele era respeitoso pra caramba quanto a isso.


O resto da noite, toda vez que a bola tocava o aro, Nick estava batendo nas minhas pernas com os box-out mais duros que eu já havia sentido. Ele era um homem com uma missão: evitar que eu pegasse rebotes. Nick não é o cara mais alto, mas ele é implacável. Ele é um competidor muito firme. Quando eu jogo contra ele, eu sei que vou ficar dormindo pela manhã porque eu tenho que disputar rebotes contra esse cara toda jogada - e eu sei que ele vai disputar cada rebote comigo.

"


Pegar rebotes quando você tem 2,11m é definitivamente mais fácil, mas não é fácil. Com alguns rebotes, sim, eu posso simplesmente pular e agarrar. Mas sempre que um cara como Nick me marca, ou uma equipe joga dois ou três caras como Nick em mim, eles estão no jogo por um motivo: me fazer ter uma noite miserável. Como um pivô, você odeia isso ... mas você também respeita isso.


Desde o meu ano de novato em 2008-09 até 2012-13, eu nunca tive média de mais de 8 rebotes em uma única temporada. Então, em 2013-14, tive média de mais de 13 por jogo. No ano seguinte, meu melhor ano até agora, eu tive média de 15 por jogo. E eu tive média de cerca de 14 nas últimas duas temporadas.


Isso significa que me levou cinco anos - mais da metade do meu tempo na NBA até agora - para decidir que meramente ser um reboteiro "muito bom" era inaceitável. É louco porque não é como se eu tivesse ficado um reboteiro duas vezes melhor de uma temporada para a outra. Eu acho que foi a combinação de muitas coisas. Devo muito crédito aos veteranos que tiraram um tempo para me ensinar e me guiar naqueles primeiros anos.


Eu também devo muito crédito ao Memphis Grizzlies.


Em 2012 e 2013, jogamos contra os Grizzlies nos playoffs. E as duas vezes eles chutaram nossa bunda nos rebotes. Em 2012, ganhamos em sete jogos, mas foi uma verdadeira batalha. Zach Randolph, Mo Speights, Marc Gasol - esses caras jogam duro demais. Naquela série de 2013, os pivôs deles nos superaram. Me superaram. Nessa série, abrimos 2-0... então eles ganharam quatro seguidos para nos mandar pra casa.


Depois que perdemos essa série eu tive que fazer uma autoavaliação. "Que tipo de jogador eu gostaria de ser?". Senti que eu era um dos maiores e mais atléticos da liga, mas não estava dominando nos rebotes.


No ano seguinte, fiz dos rebotes o meu objetivo, e levei a sério... levei a sério de verdade... pela primeira vez na minha carreira.


Isso é algo que Marcus e eu costumávamos falar. Ele dizia que rebotes são a única coisa no basquete que se pode ser egoísta. Mesmo quando jogávamos juntos, Marcus e eu costumávamos competir pela maioria dos rebotes no jogo. Essa competição me fez melhor.





Minha mentalidade aos 19 anos era basicamente esta: "Eu estou na NBA. Isso é demais! Não posso acreditar. Só de estar aqui já estou satisfeito!".


Eu honestamente nunca pensei muito em ser selecionado para o All-Star. Como eu disse, entrei na liga um crianção. Eu amava jogar e amava muitas outras coisas fora do basquete. E sabe de uma coisa? Se você perguntasse a minha mãe agora, ela provavelmente lhe diria que ainda sou um crianção.


Mas não sou a mesma pessoa que eu era nove anos atrás. Comecei a notar meu próprio crescimento quando treino com Diamond Stone. E eu percebi... Estou fazendo com Diamond o que Marcus fez comigo. Nesta temporada, Diamond e eu analisamos as jogadas das outras equipes e eu fico: "D! O que é 'fist-up, two-down' para esse time?".


E ele geralmente fica tipo "Como eu deveria saber disso?".


Algumas coisas não mudam. Mas mesmo que ele seja jovem, eu realmente acredito que o Diamond está mais empenhado em melhorar, agora mesmo, do que eu quando era da idade dele. Isso é legal de ver.




Uma coisa em que ele ainda está trabalhando é ser falante na quadra. Diamond ainda hesita em gritar as jogadas do time adversário, falar nos bloqueios e tudo mais. Chris Paul e Ray Felton matam ele por não chamar as trocas alto o suficiente. Estou tentando fazê-lo perceber que, como Pivô, esse é um dos seus principais trabalhos: você é o último defensor... você pode ver todas as ações que se desenvolvem na sua frente. Se você fica mudo, está prejudicando o time.


Então eu tenho trabalhado com ele para falar mais, e outro dia Diamond veio até mim depois do treino e estava tipo "Você me ouviu? Eu estava falando alto, você ouviu isso?".


Eu disse a ele que eu não... Eu disse a ele que ele precisava falar ainda mais alto.


Mas a verdade é que eu acho que ele está pegando o jeito da coisa. 




Espero que tenham gostado, o link para a carta original no Players Tribune está aqui.

Siga-nos também no Instagram e no  Twitter

Nenhum comentário:

Postar um comentário